HISTÓRIA DA ARTE(ARQUITETURA GREGA E ROMANA).

CREPÚSCULO E AURORA.


Atenas, o Partenon
iniciado em 447 a.c.


O templo grego é o exemplo mais perfeito já alcançado de uma arquitetura que se realiza na beleza plástica. Seu interior importava infinitamente menos do que seu exterior. A colunata em toda a volta não permite perceber onde fica a entrada. Os fiéis não entravam no templo para ficar horas em comunicação com a divindade, como fazem hoje nas igrejas. Nossa concepção ocidental do espaço teria parecido tão ininteligível para um homem do século de Péricles quanto nossa religião. É a própria plasticidade do templo que deve falar, colocada diante de nós com uma presença física mais intensa, mais viva do que a de qualquer outra construção posterior.
Destacadas do solo em que se erguem, as colunas com suas curvas salientes, suficientemente fortes para sustentar, aparentemente sem esforço, o peso das arquitraves, dos frisos e frontões esculpidos.

Já a arquitetura romana considera o edifício, antes de mais nada, como um corpo esculpido, mas não tão independente. Os edifícios são agrupados de maneira mais consciente e suas partes também são menos isoladas. As colunas isoladas e ligadas por arquitraves, muitas vezes, são substituídas por pesados pilares quadrados que sustentam arcos. A espessura das paredes é realçada, por exemplo, por nichos cavados nela. 
No lugar dos tetos planos- cuja horizontalidade perfeitamente clara se opunha à uma verticalidade- amplas abóbadas de berço ou de aresta. O arco e a abóbada de grandes dimensões são realizações de engenharia, maiores do que qualquer uma dos gregos. Quando pensamos em arquitetura romana, lembramos de arcos e abóbadas. Assim, aparecem nos aquedutos, termas, basílicas, teatros e palácios.
Entretanto, as mais grandiosas criações do sentido romano de poder, massa e plasticidade, pertencem a um período posterior ao da república, e mesmo posterior ao Alto Império. O Coliseu é do final do século I d.c., o Panteon do começo do século II, as termas de Caracala do começo do século III, a Porta Nigra, em Trier, do começo do século IV.

COLISEU



PANTEON




TERMAS DE CARACALA

PORTA NIGRA

Nessa época, estava ocorrendo uma mudança fundamental na mentalidade e não mais apenas nas  formas. A relativa estabilidade do Império Romano tinha sido destruída após a morte de Marco Aurélio(180); seguiram-se inúmeros soberanos, num ritmo só conhecido durante curtos períodos de guerra civil. Entre Marco Aurélio e Constantino, em 125 anos, houve 47 imperadores: a duração média de cada reinado era de menos de 4 anos. Esses soberanos já não eram eleitos pelo Senado Romano, esclarecido corpo de cidadãos politicamente experientes. Eram proclamados por algum exército regional de tropas bárbaras, sendo eles mesmos, frequentemente, também bárbaros - soldados rudes de origem camponesa-, que ignoravam as realizações da civilização romana e se opunham a elas. Havia, então, um estado constante de guerra interna e ao mesmo tempo, os ataques constantes de bárbaros de fora, tinham de ser repelidos. As cidades decaíram e acabaram sendo abandonadas, caindo em ruínas os mercados, termas e moradias. Soldados do exército romano saqueavam as cidades romanas. Godos, alamanos, francos, persas saqueavam províncias inteiras. Acabou o comércio, terrestre e marítimo, as fazendas e aldeias tornavam-se novamente autossuficientes; os pagamentos em dinheiro foram substituídos pelos pagamentos em espécie; os impostos também eram pagos frequentemente em espécie. A burguesia "culta", dizimada pelas guerras, execuções, assassinatos e uma taxa de natalidade cada vez menor, não mais participava dos assuntos públicos. Pessoas vindas da Síria, Ásia Menor, Egito, Espanha, Gália e Alemanha assumiam todas as posições importantes. 
Quando uma nova estabilidade foi conseguida por Diocleciano e Constantino, por volta do ano 300, foi uma estabilidade de autocracia oriental, com um rígido cerimonial da corte oriental, um exército impiedoso e um estado que tudo controlava. Roma logo deixou de ser a capital do império; foi substituída por Constantinopla. E então, o império dividiu-se em dois: o do Oriente, que se mostrou poderoso, e o do Ocidente, que se tornou presa dos invasores teutônicos, visigodos, vândalos, ostrogodos, lombardos, que passaria a fazer parte do Oriente, o Império Bizantino.
Durante esses séculos, as paredes maciças, arcos, abóbadas, nichos e absides dos palácios e edifícios públicos romanos, com sua decoração grosseiramente extravagante, ergueram-se por todo o vasto império. Esse novo estilo teve seu centro no Mediterrâneo Oriental: Egito, Síria, Ásia Menor, Palmira- isto é, a região onde o estilo helenístico havia florescido no último século a.C. O estilo romano tardio é, de fato, o sucessor do estilo grego tardio, também chamado helenístico. O Mediterrâneo Oriental também prevalecia no domínio do espírito. Do Oriente veio a nova atitude diante da religião. As pessoas estavam cansadas daquilo que o intelecto humano podia oferecer. O invisível,misterioso, o irracional eram necessidades de um povo orientalizado, barbarizado. As várias seitas dos gnósticos, o mitraísmo da Pérsia, o judaísmo e o maniqueísmo encontram seguidores. O cristianismo mostrou-se mais forte, encontrou formas duradouras de organização e sobreviveu, sob Constantino, aos riscos de uma aliança com o Império. Mas, em essência, permaneceu oriental. A máxima de Tertuliano, "Creio nisso porque é absurdo", teria sido inaceitável para um romano esclarecido. A de Agostinho, "Não se pode encontrar beleza numa substância material", também contraria o espírito da Antiguidade. Santo Agostinho veio da Líbia, Santo Atanásio e Orígenes eram egípcios; Basílio nasceu e viveu na Ásia Menor, Diocleciano era da Dalmácia, Constantino e São Jerônimo vieram das planícies húngaras. Julgados de acordo com os padrões da época de Augusto, nenhum deles era romano.
A arquitetura da época era bem representativa do seu fanatismo e despotismo por um lado e, por outro, da sua apaixonada busca do invisível, do imaterial, do mágico. É impossível separar nitidamente o estilo romano tardio do estilo cristão primitivo.
Para se ter uma ideia desse estilo, basta olharmos para duas construções, por volta do ano 300: o palácio de Diocleciano em Spalato, na Dalmácia e a basílica de Maxêncio, em Roma (mais conhecida como basílica de Constantino).


PALÁCIO DE DIOCLECIANO
O Palácio de Diocleciano tem forma retangular, medindo 215 por 175 metros. É cercado por uma muralha com torres poligonais, como se fosse um campo militar. Mas, na frente que dá para o mar, a fachada, entre duas torres quadradas, abre-se numa comprida galeria de colunas. As colunas sustentam arcos, sendo esta a mais antiga arcada sobre colunas de que se tem conhecimento. Isso cria uma leveza absolutamente estranha aos romanos. Dentro do palácio, duas ruas principais ladeadas por colunas cruzam-se perpendicularmente e, também aqui, as colunatas são em arcadas. A entrada principal fica no lado norte, e o mar no sul. A rua norte -sul atravessa inicialmente casernas e oficinas. Após o cruzamento, há dois pátios monumentais, o do lado oeste, com um pequeno templo, e o do leste, com o mausoléu imperial, uma sala octogonal, com uma cúpula e nichos no interior, cercada por uma colunata exterior. Entre os dois pátios ficava o acesso ao salão de entrada do palácio propriamente dito, um salão circular com cúpula, e quatro nichos nas diagonais. Alguns dos aposentos menores tinham forma de abside ou trevo - uma grande variedade de formas espaciais como que para expressar de modo mais evidente, por meio de um rígido sistema axial, o poder do imperador. 



BASÍLICA DE MAXÊNCIO/CONSTANTINO.
Grande sala de forma retangular, de 80 metros de comprimento por 35 de altura, encimada por três abóbadas de aresta sustentadas por seis abóbadas de berço, três de cada lado. Cada uma das abóbadas cobre 23 metros de vão. O conjunto era pesadamente decorado, como mostram os caixões dos três vãos ainda existentes. A abóbada de aresta existia em Roma desde o primeiro século a.C., e a de berço foi usada no palácio dos Parthas em Hatra, na Pérsia, mais ou menos na época do nascimento de Cristo. No Coliseu, os dois sistemas foram utilizados com habilidade, mas não em escala tão ousada.
Constantino terminou a basílica vários anos após haver derrotado Maxêncio na ponte Mílvio, reconhecendo o cristianismo como religião oficial do Império (Édito de Milão, 313). Constantino construiu inúmeras igrejas grandes, mas nenhuma sobreviveu em sua forma original, embora se saiba muito a respeito delas. Entre elas havia a igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, a da Natividade em Belém, a de Santa Irene original, a de Santa Sofia e a dos Santos Apóstolos na recém criada capital de Bizâncio, ou Constantinopla; a de São Pedro, a de São Paulo fora dos muros e a de São João Latrão, em Roma. Nenhuma dessas igrejas tinha abóbadas, o que é significativo. Isso quer dizer que os cristãos primitivos consideravam as imponentes abóbadas dos romanos como algo excessivamente mundano. Uma religião do espírito não queria nada de tão imponente, em termos físicos.




Fonte : Panorama da arquitetura ocidental.
Nikolaus Pevsner 


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